Parque de Serralves. Rua D. João de Castro, 210. 4150-417 Porto. Tel.: 226 156 500
Horário: Segundas das 10h às 19h, entre Julho e Setembro; de terça a sexta, das 10h às 19 horas; sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h. Encerra às segundas, entre Abril e Junho. www.serralves.pt.
Palácio dos Marqueses de Fronteira: Uma aula de História
Não importa que para lá dos muros esteja a selva de betão e que do lado de cá não fiquemos a salvo do barulho dos comboios que passam a escassas centenas de metros. Enquanto passeamos por entre arbustos, repuxos, estátuas de seres mitológicos e árvores centenárias deixamo-nos viajar no tempo. E aqui o tempo é longo.
O Jardim do Palácio dos Marqueses de Fronteira, situado numa encosta do Parque Florestal de Monsanto, na franja da urbe lisboeta, é uma autêntica aula de História ao ar livre. Juntamente com a casa, o espaço de 5,5 hectares — que não tem um mas sim dois jardins, uma mata e uma horta — reproduz a essência portuguesa dos séculos XVII e XVIII em elementos tão singulares como painéis de azulejos que retratam, por exemplo, as diferenças entre as classes sociais, as tarefas agrícolas para cada mês do ano ou o que então se sabia sobre os astros.
Mandada construir por volta de 1670 por Dom João de Mascarenhas, primeiro Marquês de Fronteira, a quinta começou por ser um refúgio de férias e um pavilhão de caça mas foi transformada em residência permanente para a família, depois de o terramoto de 1755 ter destruído a casa que tinham na Baixa. Desde então pouco mudou.
“Tentámos preservar a identidade do espaço e queremos que os visitantes recordem a experiência, mais do que a beleza dos jardins”, resume Filipe dos Santos, secretário-geral da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, criada em 1989 para gerir o palácio e o jardim, recentemente eleito um dos 250 mais belos do mundo pelos autores do The Gardener’s Garden.
“No dia a seguir à publicação da notícia, o telefone tocou mais”, admite Filipe dos Santos. A ideia, porém, não é ter multidões de turistas à porta — a localização afastada do centro ajuda.
Tanto a casa — parcialmente visitável e ainda habitada por Dom José Maria Mascarenhas (primo do marquês Fernando Mascarenhas, que morreu em Novembro) — como o jardim são “um hino” à Restauração da Independência de Portugal, pela qual o aristocrata lutou ao lado de D. Pedro II, conta o anfitrião. Isso explica a ausência dos três Filipes espanhóis na Galeria dos Reis, um corredor forrado a azulejos onde estão os bustos em mármore dos reis portugueses, até D. João VI.
A galeria, perpendicular ao palácio, possui dois grandes torreões em cada ponta acessíveis através de escadarias imponentes que desviam a atenção do Jardim Formal, ou Jardim Grande: um parterre de buxos de formas geométricas, arrumados em quadrados pontuados por roseiras. Parecem tapetes estendidos aos pés da fachada principal da casa. A guardá-los, 12 estátuas de chumbo erguem-se sobre pedestais de pedra.
Entre a galeria e o jardim existe um grande lago, onde se passeiam patos e carpas, limitado por uma parede azulejada — com imagens de 12 cavaleiros sobre os seus cavalos — e recortada por três pequenas grutas, onde um cisne solitário esconde as mágoas da viuvez recente.