Fugas - Viagens

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Na Jordânia, entre o mar e o deserto

Por Paulo Curado

Mergulhar no Golfo de Aqaba, explorar a beleza do deserto de Wadi Rum, percorrer as misteriosas ruínas de Petra. Paulo Curado descobre um mundo inesgotável na Jordânia.

Como ustedes no lo ignoran, he viajado mucho. Esto me ha permitido corroborar la afirmación de que siempre el viaje es más o menos ilusorio, de que nada nuevo hay bajo el sol, de que todo es uno y lo mismo, etcétera, pero también, paradójicamente, de que es infundada cualquier desesperanza de encontrar sorpresas y cosas nuevas: en verdad el mundo es inagotable.
Jorge Luís Borges, Cuentos Breves y Extraordinarios

O convite veio pelo telefone. “Queres ir mergulhar à Jordânia?” Do outro lado da linha, a editora da Fugas deu-me uns instantes para reflectir. Nunca tinha estado no Médio Oriente e não reconhecia a Jordânia como destino de eleição para actividades subaquáticas. Por outro lado, estava num período particularmente intenso de trabalho e sem grande disponibilidade. Mas pouco hesitei. Duas semanas depois, entrava no Aeroporto de Lisboa, numa madrugada chuvosa e fria de domingo. As expectativas eram relativamente modestas. Essencialmente, tinha curiosidade em conhecer um país plantado numa das regiões mais quentes do globo, a conviver tão perto com as barbáries da guerra para lá das suas fronteiras, na Síria e Iraque. Era uma viagem definitivamente diferente, mas não alimentava grandes surpresas, depois de tantas outras que fui fazendo ao longo dos anos. Enganei-me: o mundo é mesmo inesgotável. O que se segue saiu de alguns dos apontamentos que fui anotando no meu habitual caderno de viagens, normalmente para consumo pessoal. Originalmente, o tema de fundo deste artigo era o mergulho no mar Vermelho, mas tal seria redutor numa experiência que se revelou tão enriquecedora.

Aeroporto de Amã

Cinco horas e meia desde Madrid até Amã. Aterramos na capital jordana pelas 19h locais (mais duas do que em Lisboa). O aeroporto é moderno e muito amplo. Está estranhamente calmo para a hora. Pouca gente a circular e quase todos jordanos ou turistas provenientes de países próximos. Há poucos ocidentais e o nosso grupo, ruidoso, não passa despercebido. Inicialmente, as medidas de segurança parecem ser débeis. É ilusório. Pedem-nos algumas dezenas de dinares jordanos (JD: uma unidade equivale a cerca de 0,70 euros, no câmbio local) pelo visto de entrada, mas o elemento da Royal Jordanian, que nos aguarda, ultrapassa as burocracias e evita a despesa. Indica-nos a zona de embarque para Aqaba e despede-se, sem sorrisos. Pouco afáveis são também os funcionários alfandegários, que inspeccionam morosamente cada passaporte, vasculhando os destinos anteriores, antes de carimbarem os documentos. À medida que nos aproximamos da zona de embarques para os voos domésticos, o aparato policial aumenta. Tudo é examinado com o máximo detalhe e o material de mergulho que, quase todos, os meus companheiros transportam obriga a uma revista mais pormenorizada. Motivam algumas perguntas curtas, por vezes ríspidas. Esperamos pelo embarque numa zona com poucos bancos e aguardamos sentados no chão. Finalmente, as portas são abertas e sujeitamo-nos a nova inspecção, com um detector de metais. Há alguma tensão no ar.

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